O autor de Alienação Zorziana (www.alienacaozorziana.blogspot.com)

Quando a puta da dor de cabeça supera a vontade de acabar o dia. Quando o trabalho traduz o guito e o guito não nos sugere nada para atenuar o puto do tédio. Religiosamente, o mesmo olhar para as horas sem dar tempo de iludir a memória. Lá fora, a vida vai sendo adiada – aliás, incessantemente! Até ao rodar do torniquete, sou mais um número situado na ordem dos milhares; extramuros, sou um algarismo pequeno para ti e encurtado com o interagir das nossas vontades. Por vezes, somos só o 2… Mas atrás do torniquete, o cômputo é elevado e sou absolutamente irrelevante para quem de perfil megalómano.

13. Bom Filho à Casa Torna

"Voltei, voltei de lá, ainda ontem estava em França e agora já estou cá." Cá, lá, diga-se, em Alienação Zorziana para mais um temporada de sei lá o quê e durante quanto tempo!? Foi uma boa tentativa, mas fica perpetuado um registo longe da "casa" habitual. Mas, o "Bom Filho à Casa Torna" e lá estarei eu! Fogo... e este layout/textos não estavam assim tão mauzinhos, mas enfim...

12. Na Korda com os bimbos habituais

Um dia antes da abertura oficial da exposição na Cordoaria da Junqueira, o Zorze foi convidado pelo organizador da mostra a beber um mojito, a ouvir um pouco de música e, naturalmente, a contemplar o espólio de Alberto Korda. Para quem lê a Bola ou é esquecido, este senhor foi o fotógrafo protegido de Fidel Castro e o mesmo que fez a célebre fotografia do Che... ya, sim (!), aquela que vem nas carteirinhas da ganza ou nos crachás que os putos imberbes metem nas malas. Lá estava eu, a ler as fotos, a descobrir os pormenores, as intenções, as expressões, a força, a deliciar-me com a mesma intencionalidade com que me venho depois de uma boa foda e, uma vez mais, os bimbos pseudo-intelectuais das exposições, curando sobre nada, numa vaidade pedante; vestidos nos extremos do desleixo ou do aprumo: absolutamente ridículos! Eu, profundo conhecedor dos meneios tidos pelos bichos nas exposições, levei-me a mim, à minha cabeça e mandei-os foder/levar no cu. Talvez hoje, e já liberta daquela escória, a exposição tenha sido devidamente admirada por gente comum do dia-a-dia.

Recomendo a exposição "Korda - Conhecido Desconhecido" por 2 motivos:

1 - Por A.K. ser o autor da foto de Ernesto “Che” Guevera, captada em 1960. É, saiba-se, o segundo retrato mais reproduzido no mundo - só mesmo a "Gioconda” de Leonardo Da Vinci é que o ultrapassa!

2- Além do fotógrafo que documentou a Revolução Cubana, há um Korda desconhecido para descobrir num rol de fotos inéditas, entre 1956 a 1968, confiscadas aquando da “Ofensiva Revolucionária”.



Alberto Korda “Conhecido Desconhecido”

2 de Dezembro '09 a 31 de Janeiro de '10
Galeria Torreão Nascente (Edifício Cordoaria Nacional) Lisboa.

11. O regresso do herói à capital sangrenta do deserto

Algumas pessoas acreditam que somos a continuação de vidas passadas. Esoterismo à parte, embarco mais na ideia de Fantasia-Esotérica. Não sei se o termo existe, mas soa bem que se farta. Se calhar vou estruturar a tese e avançar com uma grande convenção ou congresso sob o lema: FANTASIA ESOTÉRICA: "Descubra que personagem você foi na vida passada". Pela parte que me toca, chego à conclusão que fui muitas. Todas elas esmigalhadas em centenas de folhas de primeira página de romance. Isso é bom? Claro que é! Rasgos de brutal felicidade e depressão todo o santo dia é do tutano. Foda-se, bom-bom era criar uma erva transgénica que provocasse tamanho dano e estímulo cerebral e fosse possível, quiçá, vendê-la a um preço que me permitisse mandar todo o mundo para o caralho!



Acorda, vá! Já são horas de nada.

10. Alexandre e o Finley

O Alexandre era o gajo que me vendia mel de toda a parte menos de São Francisco. A última vez que nos encontrámos, entre o fumo atordoante e reconciliador, disse-lhe "Men, curto-te bué, men...". "Zorze, tu é que és grande, maluco!". Depois desse dia, em que nos encontrámos tardiamente na street (foda-se, street soa sempre bem), nunca mais o vi. Sumiu-se; julgo que se evaporou para o Hawai. Ainda hoje penso que morreu na tubagem. Tudo isto para dizer que ouvi este senhor hoje e era um gosto musical que eu e o Alexandre partilhávamos a 100%. O resto não! Comprava-lhe a 20 euros a língua!



"Olha Zorze: pássaros-cometas a caminho do Hawai"

9. À música dos amigos

Quando uma pequena cria de uma rata (ratazana) é retirada junto da mãe, os seus níveis de stress disparam. Quando, por exemplo, estamos a conversar com alguém que achamos muito simpático(a), tendemos a imitar cada gesto que faz - até quase ao ponto de sacarmos um gnu do nariz. Quando temos algo melhor que o mediano queremos mostrar. É científico. Há estudos e está comprovado. E eu como sou mais um mero e vulgar animal (só disse isto para parecer modesto), vou-me incluir em todas estas teses: vou abrir a janela do meu Pininfarina e fazer ouvir esta música para o mundo, mas especialmente para o meu mui querido amigo Diaz, agradecendo-lhe o soberbo arroz de ameijoas e a campanhia sempre inspiradora e musical. Mas não só a ele; a todos de quem gosto. À música dos amigos.

Música. Mas música a sério: AQUI

8. Ensaio sobre o "Aié?"

- Aié? - É! - É mesmo? - É, caralho: já te disse? - Ah, que giro... - Ah pois é mesmo! - Aié? - É! - É mesmo? - É, caralho: já te disse? - Ah, que giro... - Ah pois é mesmo! - Aié? ...



- Vanessa, tu vas tombé et raché les cornes!
- Aié?

7. O cheiro do suburbano

Cabixbaixo suburbano e o saco do Lidl na mão. O comboio carrega mais umas toneladas de carne sonâmbula. Há que preparar o jantar. Subo as escadas duas a duas e ponho-me a adivinhar, piso a piso, o que preparam os vizinhos para.... bem, foda-se, falando em vizinhos e já me estou a cagar para o texto que ia escrever: não é que convoquei, enquanto administrador, uma reunião de condónimos, e os filhos da puta não apareceram?



Infelizmente, não posso dizer que o relacionamento que tenho com os meus vizinhos seja JOY'a...

6. O moço das telas e dos pvc's

O moço das telas e dos pvc's, no meio dos seus arrumos, confessou-me ser filho precoce de pais separados e de só ver a mãe 30 minutos por dia há mais de 15 anos. Vinte e um de idade disse-me ter de vida no organismo e pouco mais de seis em companhia familiar. "E não tens irmãos?", perguntei numa tentativa de simplificar a amargura. "Ya, uma irmã mais velha que não me suporta e que nunca fez comida a mais para partilhar". Ganhou maturidade. "Isso é bom? Não devias ter-te vivido criança e adolescente?" Pelos vistos, devia, mas não se ressente. "Por agora, não. Espera até aos 30 para te cair em catadupa as privações, frustrações e distanciamentos próprios do 'deixa andar'". O moço das telas e dos pvc's, no meio dos seus arrumos, tem cabelos brancos, um rosto sereno, bonito e fuma um cigarro lá fora: comigo como companhia. Pensei estes meses todos que era antipático. Erradamente.

5. Bronx Idols

Jury - Hey motherfucker, what are you going to sing?
Contestant - Well, I love french music, so I have chosen Cosdibabibúde?
Jury - What the fuck?! Are you a fucken fag?! Eat my brownie shit, stupid!!! Ok, sing...
Contestant - Je gongefe et je ton biscu, je touréi le pá, Cosdibadibúde...
Jury - Motherfucker, it's "Je me leve et je te bouscule, tu ne te reveilles pas
, comme d'habitude"!!! Fucken asshole, don't fuck around with Claude François masterpiece!!!


Claude François, o rei todo-poderoso da "Chanson Française", uma espécie de "Nacional Cançonetismo" ou mesmo "MPB". Este "Comme d'habitude" é somente o original que resultou no "My Way", celebrizado por Frank Sinatra.

4. Cop Land

Ê e mê (Euchrid de Cave não diria melhor) amigo R., partilhando o último cigarro do maço comprado a meias na véspera, fomos surpreendidos na rua, sob o já tardio crepúsculo vespertino, por dois senhores. Chegaram a toda a velocidade num Fiesta a cair de podre, bateram as portas do mesmo e um deles interrogou forte e feio: “MEUS SENHORES, têm alguma coisa que os comprometa?” Pensei que não teria que responder àqueles cabrões, mas atendendo ao tamanho dos mesmos, lá disse “Não!”. Mostraram os crachás da bófia para ficarmos mais tranquilos, só que aquilo mais parecia PVC de 3mm. Pediram para esvaziar os bolsos; então tirei 30 cêntimos do bolso direito e o meu iPod do esquerdo. Pensei: estou fodido! Vou ser assaltado por dois mânfios armados em cagões. Construí de seguida, no meu imaginário florido por white widows, situações más, mas bem melhores do que aquela que estava a vivenciar. A saber (adoro esta expressão, assim como o quiçá ou o inclusive), ser sodomizado por um pónei shetland ou ficar um dia inteiro a ouvir a música da nova campanha do Pingo Doce. Afinal, e no final das contas, pediram desculpa: “MEUS SENHORES, tivemos uma denúncia, mas já percebemos que nos enganámos nos homens”. Foi quando se fez luz na minha cabeça, isto quando os dois Golias da autoridade já tinham bazado. “Foda-se, afinal tinha uma cena que me podia comprometer: os 130 álbuns albergados no meu iPod e sacados de forma completamente ilegal!”. O que vale é que, parafraseando a obra de Shakespeare, “All's Well That Ends Well” ou, em português, “Foda-se, apanhei um susto do caralho!”



“All's Well That Ends Well”

3. Discussão matrimonial

- Sabes quanto é o peso do quilo do salmão? - O quê? - O peso do quilo do salmão? Quanto é? - Não te estou a perceber! - Porra, estou a fazer-te uma pergunta fácil: qual é o peso do quilo do salmão? - O peso do quilo do salmão? - Sim, o peso do quilo do salmão? - Já viste o que estás a dizer? - Foda-se, é complicado? - O peso do quilo do salmão ou o preço do quilo do salmão? - Ah, merda, ok, ok...

"O peso do quilo do salmão" dava um óptimo título para um romance de Verão de um socialite português



2. Dirty Post

Não é que, depois de lhe passar 10 euros para a mão, o meu querido H. desatou a correu atrás da carrinha da Family Frost como 'o' amanhã fosse ditado pela fatalidade de um armagedão ou pela vinda do planeta Hercólubus e da consequente descoberta dos reptilóides (!?) - ao que tudo indica, bem mais manhosos do que os greys intergalácticos! Pelo menos, e após me ter gasto a guita toda que, numa análise agravada, não era minha, mas sim o troco do almoço da minha mui querida madeirense T., conseguimos perceber que as caixinhas dos mini-gelados têm o mesmo sabor que as dos Magnum: a cartão! Ah, pois é, isto faz-me lembrar um momento indelével da 7 Arte:

Being as this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world, and would blow your head clean off, you've got to ask yourself one question: Do I feel lucky? Do ya, punk?




1. Um velório e um hambúrguer

Longe de casa e a caminho de um velório, num registo de viandante soturno, entro num espaço comercial e decido experimentar um novo pronto-a-comer gourmet de hambúrgueres. Ok, são mais de 200 gramas de carne e ainda um ovo frito a cavalgá-lo freneticamente ao som de um pesado e moroso Bolero de calorias. É claro que após o repasto me senti mal, mas enquanto o comi, senti uma alegria própria de uma criança que encontra um parque infantil no meio do nada. E não me deixei intimidar pelos remorços. Bastou-me mirar as criaturas passantes que, à procura da linha - reparem só na ironia da coisa -, entravam hirtas e confiantes na Casa das Sopas (é assim, não é?). O problema de engordarem até explodirem num regozijo de prazer à moda de La Grande Bouffe não me incomoda. Incomoda-me, sim (!), desconhecerem o simples facto daquelas sopas terem mais farinha do que um camião cisterna pode albergar. Ao menos, e a minha presença estava lá para o comprovar, há ainda indivíduos que comem com a consciência de que estão mesmo a comer merda e não pseudo-não-merda.